Já faz quase um mês desde o último post aqui no blog, que era um checklist preparativo para a viagem que fiz com a Thais para Aldeia Velha, um pequeno vilarejo na divisa de Silva Jardim e Casimiro de Abreu.
Desde que voltamos estou devendo um relato da pedalada, mas andei muito enrolado com final de período e outras situações, e fiquei postergando isso.
Inspirado e empolgado com os preparativos da viagem que parto daqui a 1 mês, resolvi escrever então o relato.
Como essa é a minha visão dos fatos e a pedalada foi a dois, convido a Thais pra fazer um relato dela, até por ter sido a sua primeira viagem e tal! =D
…
Fui para Niterói na véspera da viagem. Tínhamos várias coisas de última hora para resolver, como de costume, e iria rolar uma Bicicletada por lá. A Bicicletada acabou não rolando por falta de quorum (só apareceram 6 pessoas, metade delas desistiu, e eu e Thais tinhamos que resolver tudo pra pedalada).
Acertamos os últimos detalhes, compras de farmácia, arrumar os alforjes nas bikes e etc, com a doce companhia de Danilo e Brunão, e só fomos dormir lá pela 1:30 da manhã se não me falha a memória. O plano era acordar umas 3:30, mas esticamos um pouquinho na cama, e só saímos 5:45.
Optamos por tentar um caminho que era novo pra mim (e pra ela também): ir por dentro de São Gonçalo (pelo Fonseca), até chegar na BR. Dessa forma evitamos o trânsito confuso e perigoso da Av. do Contorno, e a Niterói-Manilha. E ainda encontramos de novo o Brunão, amanhecendo o dia, perto da casa dele, tomando uma cerveja.
Entramos na BR sem maiores problemas (não que o trânsito nesse caminho seja tranquilão, em alguns trechos é terra de malboro, mas foi a melhor opção para sair de Niterói para a BR que fiz até agora).
Então começamos a pedalada pra valer, já com o sol começando a subir. Seguimos sem parar até o já tradicional ponto de Itaboraí onde tem um caldo de cana. Mas nas duas últimas vezes que passei por lá era cedo demais e não estava aberto. Paramos no barsinho onde 4 meses antes o Marcus quase arrancou um dedo fora, mas errou por pouco e só saiu muito muito sangue. No bar dessa vez tinha uma galera muito vida-loka com uns papos barra pesada bem engraçados.
Seguimos adiante, num ritmo de pedalada muito bom. Apesar de ser a primeira viagem da Thais, ela aguentou muito bem e manteve um ritmo muito bom, principalmente no trecho inicial. Às vezes eu tinha que dar uma esticada pra alcança-la.
Como tínhamos dormido muito pouco, o sono logo me atacou, e em algum lugar próximo de Tanguá eu já tava sentindo uma forte fadiga causada pelo sono. Precisei parar e tomar uma coca-cola, com a esperança que me desse uma acordada. Mas não resolveu nada.
Seguimos em frente com a meta de fazer uma parada um pouco mais calma no bar da tia onde parei nas 2 pedaladas anteriores pela BR-101.
A BR-101 é uma estrada bastante chata e entediante. Nada acontece, nada excepcionalmente bonito no caminho, nenhum desvio ou mudança. Absolutamente uma linha quase reta.
Paramos nesse barsinho da tia eram umas 10:30. Ele fica exatamente na metade do caminho até Aldeia Velha, e uns 15km antes da entrada de Rio Bonito.
Aqui a Thaís começou a sentir o cansaço da estrada, causado pela pedalada e pelo sol, que começava a castigar.
Apesar disso, decidimos seguir adiante até pelo menos 12h, e só então fazermos uma parada mais longa. Mesmo com o cansaço, ela tava bastante empolgada e sempre dando força pra gente continuar no gás. Tomamos uma água, comemos um doce, passamos uma nova camada de protetor solar, tudo ao som de tecnobrega, e seguimos em frente.
A partir daqui a pedalada começou a ser muito fatigante. O sol estava no ápice, meu sono era forte, e a Thaís começou a cansar de verdade. Passamos pela entrada da Via Lagos logo depois de Rio Bonito (pra quem vai de bike pela BR, é necessario contornar pela Via Lagos, e atravessar pela passarela).
Seguimos mas alguns km até não aguentarmos mais e pararmos, cerca de 12:30, em um Queijão que estava a uns 40km da entrada Aldeia Velha.
Quando sentamos a Thais afirmou categoricamente: “Daqui não vou mais levantar! Não aguento mais!”
De fato o cansaço tava bem forte. Passamos umas 2h parados lá. Fizemos um lanche mais reforçado, tiramos um cochilo deitados na varanda da loja, estávamos imundos, e precisamos de muito esforço pra retomar a pedalada, cerca de 14:30h. Fiz um trabalho psicológico na Thaís, pra ela acreditar que dava pra chegar!
Pedalei para Aldeia Velha duas vezes, e não entendo bem o porque, mas a estrada para lá parece muito mais cansativa que as outras que já fiz. Nesse ponto, por exemplo, tinhamos pedalado 80km, e já estávamos destruídos. Na outra vez que fui, parei nesse local com a mesma sensação. Mesmo a estrada sendo relativamente plana, é muito desgastante. Quando subi a serra das araras até Piraí, completando lá 100km, não me senti tão cansado. Vai entender.
Os quilometros seguintes foram pedalados num ritmo relativamente bom, mas meio no automático, com um sentimento de não aguento mais. Num certo momento meu sono foi tanto que dormi por uma fração de segundos e quase tomei um tombo.
Depois de 118km pedalados, finalmente chegamos à entrada de Aldeia Velha. Exatamente como da outra vez, aqui você se sente totalmente revigorado, saindo da estradona de asfalto e caminhões, e pegando uma estradinha de terra batida, com gado, passarinhos, cachorros.
De fato, como conversei certa vez com o Rodrigo Primo, a estrada pela qual você pedala é tão ou mais importante do que o lugar para onde se vai, e é essencial se levar isso em conta quando se planeja uma viagem. Tanto é que nessa viagem que farei agora em dezembro estou procurando sempre alternativas às grandes rodovias, em todos os trechos em que isso seja possível.
Chegamos em Aldeia Velha umas 17:30, 12h depois da saída. Ficamos hospedados na casa da Dani, companheira do Pedro, da bicicletada aqui do Rio, e com a companhia da Ainá, filha deles. Na chegada ainda deu tempo de tomarmos um bom banho de rio aproveitando o fim do sol.
A estadia por lá foi maravilhosa, e decidimos voltar de ônibus para podermos passar um dia a mais em Aldeia.
Cachoeira e rio maravilhosos, visita ao Centro de Cultura Caipira, espaço gerido pelo pessoal da Escola da Mata Atlântica, cobra, cachorro, passeio noturno na estrada totalmente escura.
Foi uma viagem linda, e quero voltar lá assim que seja possível!
Agora sigo com os preparativos para a primeira viagem longa que farei: saio daqui dia 18 de dezembro, para Santa Catarina, tendo como destino final Garopaba, cidade de praia 100km ao sul de Florianópolis, onde minha família tem casa e com frequencia passo as férias. Estou planejando passar uns 25 dias na estrada, com paradas de 3 dias em SP, Cwb e Floripa.
Ao todo devo pedalar uns 1.300km, a maior parte sozinho, com meu violão no bagageiro.
E se tudo der certo a Thaís vai me acompanhar no trecho do Lagamar, as ilhas que dividem os estados de SP e PR.
Tem mais fotos da viagem no meu facebook (que nesse momento está desativado), e logo abaixo seguem mais algumas.
Thaís, escreva sua versão da viagem, pra eu postar aqui!