ressucitando

Esse blog surgiu como um blog sobre bicicletas. Foi abandonado por cerca de um ano e meio, e por pedaladas e inquietudes recentes está sendo reaberto.

Ele não vai deixar de ser um blog sobre bicicletas, mas vou dar pra ele um uso mais pessoal e reflexivo. Vou deixar as questões mais técnicas para esse espaço: http://oficinarodalivre.wordpress.com/, que é o blog coletivo da oficina comunitária Roda Livre.

É como naquela velha música que voce ja conhece de cor. E ai um belo dia, ouvindo distraído, descobre um novo detalhe na mixagem ou um erro na guitarra que poderia jurar que não estava lá por todos esses anos. Mas no fundo sabe que estava, e que era nesse pequeno pedaço até então desconhecido que residia a magia da canção.

O lugar não é o mesmo se o olhar não é o mesmo.

Dia após dia em que me desloco pela cidade, nas madrugadas em que decido visitar os lugares de minha adolescencia, ou quando pedalo mais uma vez pela mesma estrada outras vezes, deixo em casa o funcionário apressado de outrora, ansioso e amedrontado.

Por o pé pra fora de casa sem enlouquecer com a repetição das rotas e linhas estabelecidas exige o esforço de se abrir ao novo. É um estado ativo de percepção do espaço, uma forma de se ver e de estar no mundo, mas que também exige distração.

É esse equilíbrio tênue entre a concentração e a distração que traz aos olhos os segredos das ruas, os erros tão belos que as vezes esbarramos por aí. Entre o esforço de não repetir os passos de ontem e o risco de se perder sem observar, as ruas se dobram, as histórias se mostram vivas sobre as tramas das ruas, o olhar de viajante se forma. Cada pequeno detalhe se desdobra em nós, em nossos corpos abertos. Entramos nas fissuras discretas de um mundo que, num dia antigo, nos convenceram de ser intransponível.

Voce se lembra daquela tarde em que fomos enganadxs pelo mapa? A estrada que se formou sob nossos pés e rodas era bem diferente da esperada. E ai não soubemos bem pra onde ir. Anoiteceu e ainda vagávamos tentando descobrir um caminho pra casa. O que havia de seguro naquele trajeto nos foi arrancado aí, mas demorei muito pra perceber que essa foi a grande beleza daquela viagem.

Hoje, tanto tempo depois, me arrependo um pouco de não ter aproveitado aquele instante a deriva, de ter sido tão metódico. Mas o fato é que as lembranças mais bonitas que tenho desse dia são justamente as surpresas que saltaram a nossa frente e me arrancaram as certezas. Naquele tempo eu já deveria ter aprendido que nem todo lugar está no Google Maps.

Reorganizo as velhas palavras limitadas pra poder dar vazão ao novo sentido que encontro. Como o lugar e o olhar, a palavra não é mais a mesma. Nenhuma passagem é a repetição do mesmo. A memória fragmenta o que foi vivenciado e junta os cacos sob seus próprios critérios, nem sempre posso interferir. Só me resta confiar nela. É uma cartografia traçada a lance de dados. O que importa é manter os pés girando.

Dura da PM, trapaças e São Paulo

Continuando meu relato, agora em SP!

Depois de internet e me empanturrar de macarrão enquanto os estudantes de engenharia estudavam pra prova natalina em Lorena, saí da cidade umas 5:50, em direção à Dutra. Mas depois de 15 km nessa rodovia logo enchi o saco das carretas passando a milímetros do meu ouvido, e resolvi experimentar a Estrada Velha.
Saí na altura de Guaratinguetá, onde peguei uma avenida que entrou em Aparecida e cruzou toda a cidade. Finalmente pude ver mais de perto a basílica da cidade, para onde vão os romeros nessa época do ano. É realmente impressionante a construção.

Segui pra fora da cidade pela estradinha calma, a antiga Rio x São Paulo, passando por áreas de campo e por dentro de várias cidades. Roseiras, que nunca tinha ouvido falar, Pindamonhangaba, onde nunca antes achei que fosse pisar, e segui para Taubaté. Saindo de pinta tomei o primeiro caldo de cana desses dias todos, com limao, e foi uma maravilha.

Chegando em Taubaté tive o primeiro contratempo da viagem, mas não teve nada a ver com problemas mecanicos ou com a estrada.
Passei pelo presídio feminino feminino de Tremembé. Um presídio bem grande, parecido com aqueles de filme americano.
Poucos km depois passei por outra penitenciária, masculina, e na frente havia várias pessoas, com sacolas e presentes, provavelmente fazendo a visita de natal a seus parentes.
Parei e tirei uma foto do prédio do presídio. Do outro lado da estrada estava uma viatura da PM. Reparei que eles me olhavam feio, mas caguei, fiz a foto e segui viagem.

Cerca de 500 metros a frente duas viaturas se aproximaram e me mandaram encostar na estrada. Descem 4 policiais, todos armados, e o primeiro me pergunta com aquela delicadeza da polícia militar: “Por que você tirou foto da gente ali atrás?”
– Não tirei foto de nenhum policial, tirei foto apenas do presídio.
Enquanto dava a camera para o policial conferir as fotos que eu havia feito e constatar que não aparecia o rosto de nenhum deles, o inquérito seguiu com os outros:
– Onde você mora? Você trabalha com o que? Tá viajando assim porque? Você é atleta ou faz isso porque gosta?
E um outro, olhando pra minha perna:
– Essa tatuagem aí, oq ue é isso? Uma águia? Tem outras? Mostra todas!

Depois de explicar tudo, que tava só de curioso, dando um role, e o cara ver que a foto era só do presidio, segui viagem. A partir daí a estrada piorou muito, e o sol estava castigando, mas resolvi seguir numa tacada só até São José dos Campos, porque sabia que a Cristina, que me hospedaria pelo Couch Surfing, tava me esperando e precisava ir pra SP ainda nesse dia.
Na saída de Taubaté resolvi parar num cicle pra arrumar uma haste de ferro de cestinha, pra fazer uma gambiarra pra minha bolsa de guidão. Parei no cicle e expliquei pra moça que queria uma e pra que eu queria. Em segundos ela voltou com a haste já dobrada do jeito que eu precisava. Muito sagaz.

No fim das contas não deu tão certo quando eu tinha imaginado, e ainda preciso pensar em outra solução, mas achei foda a ajuda da tia. Essa bolsa que eu trouxe é grande demais e tá com muito peso, não tá se sustentando.

Nada de muito interessante nesse trecho, até chegar em São José dos Campos, onde peguei umas ladeiras monstruosas até chegar na casa da Cristina. Como sabia que ela vinha pra SP, resolvi arriscar e pedir uma carona. Ela vinha de carro. Sorte!
Ela me recebeu muito bem lá. Tomei um banho, comi um miojo, desmontei a bike pra colocar no carro e viemos pra cá.
Decidi pegar essa carona pois o trecho de S.J.C. pra SP pela Dutra é feio, nada de bacana pra ver pelo caminho, e a entrada na cidade pela  marginal Tiete é péssima pra pedalar.
A Cristina me levou até a casa do Leo, que estava em SP pra passar o natal com a familia, e fiquei a primeira noite lá. Depois de chegar, fomos dar um role pra comer junkie food vegan no Prime Dog, com uma amiga dele (nao lembro o nome dela, acho que é Mari). Comi um beirute do tamanho de um prato, nuggets com molhinho de maionese, tudo vegan.
De lá fizemos um programa de paulista completo: caminhar pela Av. Paulista, que estava lotada de gente vendo as luzes de natal. Cruzamos ela toda, da Vergueiro até a Teodoro, de onde seguimos pra casa da Mari, que nos deu uma carona de volta pra casa do Leo (em Pirituba, bem longe).

No dia seguinte almoçamos um rango maravilhoso que a mãe do Leo fez, tomamos um açaí vindo direto do Pará, e arrumei minhas coisas pra vir pra casa da Thais, onde to agora. Cruzei um pedaço bem grande de SP de bike. de Pirituba até a Vila Mariana. como era dia 24, nao teve muito transito, mas chovia e as ladeiras são interminaveis!
Essa foi a primeira vez na minha vida que eu de fato senti que São Paulo é grande. Muito muito grande. Uma cidade muito maluca. Mas eu adoro.

Passei um natal tranquilo e divertido com a familia da Thais. Agora preciso rearranjar tudo, regular a bike (a marcha tá dando xabu chato. Quem foi mesmo que falou que Rapid Fire não desregula?!), amanha vou comprar uns rangos pra viagem e depois SOROKO!!

e aí sigo viagem pra Juquitiba e depois litoral sul.

Beijos a todxs e valeu por todas as mensagens de apoio! Pega sua bike e vai pedalar!

Noticias da estrada

Três dias atrás eu saí da minha casa de bicicleta, dando início a uma viagem para Garopaba/SC, num percurso de cerca de 1400 km.
Viajo sozinho, carregando todo meu equipamento, roupas e comida, e em boa parte das paradas nao tenho lugar certo para dormir.

Agora estou em Lorena/SP, hospedado na casa de um cara, via Couch Surf, depois de 300km rodados, pela Via Dutra, Rodovia dos Tropeiros e Via Dutra de novo.

No primeiro dia fiz uma viagem relativamente tranquila até Piraí, toda pela Via Dutra. Saí de casa bem depois do horario previsto, e pedalei ao todo 101km. Num posto de gasolina em Seropédica conheci uma dupla de caminhoneiros gente finíssimas, André e Ercílio, enquanto eu cozinhava meu almoço – arroz com lentilha e cogumelo seco. Na subida da Serra das Araras parei para pegar água fresca numa venda de frutas e ganhei um coco do vendedor. “Toma! Pra se refrescar!” ele disse.
Eu tinha planejado pedalar até Passa Tres, mas parando em Piraí para comprar uma camara de ar reserva (saí de casa sem uma!) caiu um temporal, e resolvi ficar por lá mesmo.
Me abriguei na igreja da cidade, depois que um assistente social de lá me disse que havia um quarto para viajantes e que o padre me permitiria ficar. Passei a noite lá, sozinho nos fundos da igreja, num quarto simples mas aconchegante.

No dia seguinte comecei a pedalar as 5:30, e saí da Dutra, em direçao a Passa Tres. Pedalada tranquila até lá, e nesse trecho tive a felicidade de reaprender a pedalar sem as maos. Depois de lá segui pela estrada que já conhecia de uma viagem anterior, até o trevo para Rio Claro ou Getulandia. Dessa vez segui para a direita, e alguns km depois de passar por Getulandia saí dessa estrada e entrei na Rodovia dos Tropeiros, antiga estrada que ligava o Rio a São Paulo. Depois de algumas subidas e descidas agradáveis, cruzei a divisa dos estados. No caminho conheci um ciclista de Barra Mansa que parou para fumar um baseado numa clareira na beira da estrada, onde eu colhia um mamão verde para fazer um doce mais tarde. Acabei perdendo o mamão km depois, que caiu do estensor. Pedalamos juntos alguns km, e ele segiu para Barra Mansa e eu para Bananal/SP. Parei por lá para almoçar, mas achei a cidade um pouco antipática. Comprei legumes e andei 2km na estrada para uma serra cujo nome nao me lembro. Sentei na grama, na beira da estrada, fiz meu almoço e tirei um delicioso cochilo ao som de pássaros.

Passei de volta pelo centro de Bananal e segui pela Rod. dos Tropeiros. Até Arapeí peguei subidas e descidas agradáveis. Lá parei para tomar uma coca, e de brinde enchi minha garrafa de ácool de graça. Depois de lá já estava muito cansado, e a estrada foi um pouco dura. Faltando 4km para S. J. do Barreiro, onde pretendia pernoitar, minha água acabou e um inseto se espatifou no meu olho. Parei na estrada e resolvi pedir água pro proximo carro que passasse. Por a caso era uma picape da prefeitura de S. J. do Barreiro, e acabei ganhando uma carona pra lá. E aí começou a novela de improvisar um abrigo.

Tentei primeiro falar com os donos de uma agencia de ecoturismo e trekking, mas não estavam lá. Achei um point do açaí, me presenteei com um, e soube que o dono da tal agencia era tambem prefeito da cidade. Aí fui atrás do Edgar pra pegar a chave do Recinto, um espaço de eventos da cidade, onde eles permitem a viajantes e romeiros armar a barraca e pernoitar. Mas aí ele não tinha a chave, e fui esperar o prefeito sair de um evento pra falar com ele. No fim das contas uma funcionária da prefeitura me sugeriu passar a noite num quarto na rodoviária, que também era usado de abrigo para viajantes. Eu só tinha que esperar o vigia da noite chegar. Era fechado e seguro, com o vigia por lá a noite toda. Até ele chegar conversei com vários moradores, bebuns, caminhoneiros e caminhoneiros bebuns. Inclusive um cara de uma carreta de laticínios na qual eu tinha segurado pra ser rebocado numa subida chata (ele nem tinha reparado nisso).

No fim das contas dormi bem no tal quartinho, e as 6:30 comecei a pedalada para Areias. Subidas e descidas suaves e clima fresco. De lá tinha duas opçoes: Silveiras – caminho mais longo, estrada mais calma – ou Queluz – caminho mais curto, de volta pra Dutra mais cedo. Optei por Queluz pois na Dutra poderia ter uma velocidade média mais alta. De volta a Dutra pelas 10:30, segui adiante até Cruzeiro. Cheguei lá já sem água, no auge do Sol, e desesperado pra parar. Mas descobri que faltavam apenas 15km pra Lorena, onde ficaria hospedado, e resolvi seguir. As 14:30 eu estava entrando na república de uma galera estudante de engenharia, que está me hospedando.

Fiz uma macarronada brutal, e agora to aqui internetando e dando noticias enquanto eles estudam pra prova de amanha. Já eu saio bem cedo e sigo para São Jose dos Campos, para a casa de uma moça do Couch Surf, e sábado chego em SP, para passar o natal com uma amiga.

Beijos a todxs e em breve mais noticias!

 

Preparativos para a viagem: a rota!

Para definir o trajeto da viagem, comprei diversos mapas, do Brasil e dos estados pelos quais vou passar, medi as distâncias dos locais em centímetros para depois converter com a escala, e…

Ah não, já inventaram o Google Maps e o Bikemap.
Alguns mais saudosistas devem achar que não tem mais tanta graça viajar com toda essa tecnologia, perde o elemento surpresa, fica fácil demais. De certa forma deve ser verdade.
Por outro lado acho muito bom sair de casa sabendo quais subidas e descidas vou pegar, distâncias entre as cidades, para escolher pontos de parada, já ter uma idéia aproximada da quilometragem total da viagem, etc. E também é ótimo poder compartilhar rotas, caminhos possíveis e idéias através de um simples link.

Mas acho legal também não deixar isso tomar conta demais da viagem. Não tenho e nem quero ter GPS, não acho necessário. Os pontos de parada são apenas previsões, não tenho obrigação de chegar até eles na data prevista, nem de ficar o tempo previsto.
Mas eu sou metódico e gosto de ter tudo bem esquematizado, pra que os imprevistos e surpresas sejam mais positivos do que negativos.

Minha idéia é viajar num ritmo um pouco mais puxado nos primeiros 5 dias, até São Paulo, numa média de 100km diários. Lá vou descansar por alguns dias, e a partir daí diminuo o ritmo para uns 80 km por dia (em alguns trechos mais, em outros menos).

As outras paradas longas que faço são em Juquitiba (SP), Curitiba e Florianópolis, por uns 3 dias em cada cidade.
Nos demais pontos, a princípio, só vou pernoitar. Mas tudo pode mudar, dependendo do que eu encontrar, das paisagens, natureza, pessoas.

No trecho do Lagamar (divisa SP/PR) e de Curitiba até Garopaba quase tudo das rotas do Rodrigo Primo, que já pedalou por esses dois caminhos.
Em algumas cidades vou ficar na casa de amigxs, em outras consegui hospedagem pelo couch surfing. Em Passa Três vou tentar um teto com a galera que me abrigou quando fui a Lídice. E em outros pontos o esquema vai ser acampar na estrada e no mato mesmo.

A propósito, não estou levando barraca, só um saco de dormir e uma barraca de emergência, que é uma tenda super simples, custa $ 20, dobrada fica do tamanho de uma camisa, e como o nome diz, serve para emergências.

Segue o link do mapa com o trajeto planejado. E tudo pode mudar.

http://www.bikemap.net/route/1352347

Preparativos para a viagem: a bicicleta

Prometi a mim mesmo que faria uma série de posts mostrando os preparativos da viagem que farei em alguns poucos dias. Não sei se vou ter tempo de postar sobre tudo o que gostaria antes de partir, porque ainda falta muita coisa pra agilizar, tanto da viagem quanto pendências academicas e de trabalhos aqui no Rio.

Para quem não sabe ainda, no dia 17 começo uma viagem de bike rumo a Garopaba/SC, cidade de praia 80 km ao sul de Florianópolis. Pretendo levar uns 25 dias pra chegar lá, parando com calma em vários lugares do caminho, visitando amigxs e conhecendo pessoas.
A maior parte do trajeto eu vou fazer sozinho.

Achei que seria interessante falar dos preparativos começando por um elemento essencial: a bicicleta!

Bom, essa é uma bicicleta genérica com quadro de alumínio, que comprei há uns 3 anos na loja Ciclovia, em Copacabana, onde o meu amigo Leonardo trabalhava. A bike foi montada pela própria loja, fiz algumas modificações nela na compra, e foi com ela que fiz minha primeira viagem, para Rio das Ostras, em 2009.

Quando comprei a speed, no ano passado, acabei deixando ela encostada por vários meses, até que na viagem para Lídice percebi que uma mtb devidamente ajustada se sairia melhor para cicloturismo do que uma road com pneus excessivamente finos e poucas marchas leves.

Então de uns meses pra cá comecei a modificar a bike toda, a tal ponto que só o que restou de original foi o quadro e os freios (e olha que essa semana ainda troco os manetes).

Vamos lá, a bike é:
– quadro de alumínio, marca desconhecida.
– garfo rigido, de aço, marca desconhecida.
– selim veloplush com furo central e canote gts de aluminio.
– aro 26″, aluminio, barra dupla. raios inox.
– cubos shungfeng.
– pneu kenda kwest, slick, 26×1.50
– cambios shimano sis/tourney.
– pedivela shimano tourney 48-38-28.
– pedal comum de aluminio.
– pinhão de rosca, shimano tourney 7 velocidades. (acho que é 11-28).
– passadores comuns e genéricos (esse ponto merece um tópico especial)
– freios V-brake Logan. manetes serão trocados essa semana por gts.
– mesa regulavel, acho que é Zoom.
– guidão mtb da Tranz-X

Extras:
– fitas anti-furo, iluminação Planet Bike, computador Cateye Velo 8, bagageiro comum de aço zincado (aquele de $ 20 em qualquer cicle), bar ends, fita de guidão dropdown no lugar de manoplas.

Primeira coisa que acho importante dizer sobre essa bike: ela não é uma bicicleta foda, tampouco é uma bicicleta ruim. É razoável, dentro do que eu posso pagar (e do que eu já tinha, levando em conta que ficou um tempo parada). Funciona tudo bem, com excessão do cambio dianteiro que está um pouco chato, mas tudo bem. A roda dianteira tá desalinhada, acho que a culpa é do garfo.

Vou fazer uma viagem de 1.300 km com ela, e imagino que ela vai se sair bem.
Se eu for em alguma loja de bike mais bacaninha, vou ouvir que ela é fraca, pesada, não serve.
O Ciclovida foi do Ceará até a Argentina com uma cargueira e uma outra bike sem marcha. E aí?

Acho que bicicleta boa é aquela que você tem, cuida, e faz tudo que tem que fazer, de acordo com suas necessidades.
Cicloturismo não exige bicicletas top de linha, peças de carbono, etc.
Exige bikes robustas e que se desempenhem bem em diversas situações (adversas).

Algumas informações sobre a escolha dessa bike e de certos componentes dela:

Lendo muito sobre ciclotour, vi que há algumas boas razões para optar pelo aro 26″, apesar do 700 ter supostamente um rendimento melhor.
– mais facilidade de conseguir pneus e câmaras, pois o tamanho 26″ é mais padrão, mundialmente.
– mais resistencia a impacto.
– mais versátil, para enfrentar diferentes tipos de solo.
– cicloturismo não é competição, então é melhor deixar de lado a obsessão por desempenho, se você pretende viajar 1000 km com 15 kg de bagagem, ou as vezes muito mais do que isso!

Quanto ao câmbio, optei pelos passadores “comuns”, aqueles de alavanca simples, sem rapid fire.

Por que? Bom, embora o rapid fire seja muito eficiente e ágil, é muito mais sensível a desregulagens, e principalmente a impactos. Ouvi por aí que as vezes um pequeno impacto no cambio traseiro pode ser suficiente para inutilizar um rapid fire.
É por isso que os passadores bar-ends da Shimano, usados principalmente em bikes de cicloturismo, podem mudar de indexados para simples com o girar de uma chave. Se você estiver no meio do nada, a quilometros de distancia de uma cidade, e tiver problemas com o sistema indexado, é só passar pro outro sistema.
Além disso esse sistema é sempre separado do manete do freio, e caso seu passador quebre, você compra um novo por 10 reais em qualquer bicicletaria. A maioria dos rapid fires vem acoplados com o manete do freio, e quebrar uma parde de uma peça significa trocar o jogo todo (aconteceu com um amigo meu essa semana).

O problema disso: como o mercado de comercialização de peças de bicicletas funciona por modas e padrões, quando você anda pro lado oposto desse padrão, fica difícil encontrar peças, ou pelo menos peças de qualidade.
Em todas as lojas que fui atrás de um bom passador de marcha do tipo simples me foi recomendado desistir disso e usar o rapid fire, que é muito melhor e bla bla bla. E não há no mercado brasileiro passadores de marcha simples de boa qualidade. Ou você usa os genéricos, ou é rapid fire. Sem meio termo. Na internet achei algumas opções, mas todas importadas, fora do meu orçamento e especificações.

Então fiquei com esses passadores que ganhei do Marcos Nicolaiewsky. São genéricos, simples, e estão funcionando. O cambio traseiro perfeitamente. O dianteiro com certa dificuldade de chegar na coroa maior, mas não sei como resolver e acho que viajarei com ele assim mesmo.

Por em quanto acho que é isso que tinha pra falar da bicicleta. Nos próximos posts, a lista de equipamentos, alimentação, roupas, como vou carregar tudo isso na bicicleta, e dicas de adaptações e gambiarras faça-você-mesmo para cicloturistas duros e pão-duros como eu.
(Um bom exemplo é bolsa de guidão que está na bike na foto. É uma bolsa de camera (ou algum outro equipo eletronico) que comprei por $ 20 no shopping-chão, e adaptei pra prender aí com fitas de velcro.)

(não me pergunte porque a foto está virada.)

Relato da viagem para Aldeia Velha

Já faz quase um mês desde o último post aqui no blog, que era um checklist preparativo para a viagem que fiz com a Thais para Aldeia Velha, um pequeno vilarejo na divisa de Silva Jardim e Casimiro de Abreu.

Desde que voltamos estou devendo um relato da pedalada, mas andei muito enrolado com final de período e outras situações, e fiquei postergando isso.
Inspirado e empolgado com os preparativos da viagem que parto daqui a 1 mês, resolvi escrever então o relato.

Como essa é a minha visão dos fatos e a pedalada foi a dois, convido a Thais pra fazer um relato dela, até por ter sido a sua primeira viagem e tal! =D

Fui para Niterói na véspera da viagem. Tínhamos várias coisas de última hora para resolver, como de costume, e iria rolar uma Bicicletada por lá. A Bicicletada acabou não rolando por falta de quorum (só apareceram 6 pessoas, metade delas desistiu, e eu e Thais tinhamos que resolver tudo pra pedalada).
Acertamos os últimos detalhes, compras de farmácia, arrumar os alforjes nas bikes e etc, com a doce companhia de Danilo e Brunão, e só fomos dormir lá pela 1:30 da manhã se não me falha a memória. O plano era acordar umas 3:30, mas esticamos um pouquinho na cama, e só saímos 5:45.

Optamos por tentar um caminho que era novo pra mim (e pra ela também): ir por dentro de São Gonçalo (pelo Fonseca), até chegar na BR. Dessa forma evitamos o trânsito confuso e perigoso da Av. do Contorno, e a Niterói-Manilha. E ainda encontramos de novo o Brunão, amanhecendo o dia, perto da casa dele, tomando uma cerveja.

Entramos na BR sem maiores problemas (não que o trânsito nesse caminho seja tranquilão, em alguns trechos é terra de malboro, mas foi a melhor opção para sair de Niterói para a BR que fiz até agora).
Então começamos a pedalada pra valer, já com o sol começando a subir. Seguimos sem parar até o já tradicional ponto de Itaboraí onde tem um caldo de cana. Mas nas duas últimas vezes que passei por lá era cedo demais e não estava aberto. Paramos no barsinho onde 4 meses antes o Marcus quase arrancou um dedo fora, mas errou por pouco e só saiu muito muito sangue. No bar dessa vez tinha uma galera muito vida-loka com uns papos barra pesada bem engraçados.

Seguimos adiante, num ritmo de pedalada muito bom. Apesar de ser a primeira viagem da Thais, ela aguentou muito bem e manteve um ritmo muito bom, principalmente no trecho inicial. Às vezes eu tinha que dar uma esticada pra alcança-la.
Como tínhamos dormido muito pouco, o sono logo me atacou, e em algum lugar próximo de Tanguá eu já tava sentindo uma forte fadiga causada pelo sono. Precisei parar e tomar uma coca-cola, com a esperança que me desse uma acordada. Mas não resolveu nada.
Seguimos em frente com a meta de fazer uma parada um pouco mais calma no bar da tia onde parei nas 2 pedaladas anteriores pela BR-101.
A BR-101 é uma estrada bastante chata e entediante. Nada acontece, nada excepcionalmente bonito no caminho, nenhum desvio ou mudança. Absolutamente uma linha quase reta.

Paramos nesse barsinho da tia eram umas 10:30. Ele fica exatamente na metade do caminho até Aldeia Velha, e uns 15km antes da entrada de Rio Bonito.
Aqui a Thaís começou a sentir o cansaço da estrada, causado pela pedalada e pelo sol, que começava a castigar.
Apesar disso, decidimos seguir adiante até pelo menos 12h, e só então fazermos uma parada mais longa. Mesmo com o cansaço, ela tava bastante empolgada e sempre dando força pra gente continuar no gás. Tomamos uma água, comemos um doce, passamos uma nova camada de protetor solar, tudo ao som de tecnobrega, e seguimos em frente.

A partir daqui a pedalada começou a ser muito fatigante. O sol estava no ápice, meu sono era forte, e a Thaís começou a cansar de verdade. Passamos pela entrada da Via Lagos logo depois de Rio Bonito (pra quem vai de bike pela BR, é necessario contornar pela Via Lagos, e atravessar pela passarela).
Seguimos mas alguns km até não aguentarmos mais e pararmos, cerca de 12:30, em um Queijão que estava a uns 40km da entrada Aldeia Velha.
Quando sentamos a Thais afirmou categoricamente: “Daqui não vou mais levantar! Não aguento mais!”

De fato o cansaço tava bem forte. Passamos umas 2h parados lá. Fizemos um lanche mais reforçado, tiramos um cochilo deitados na varanda da loja, estávamos imundos, e precisamos de muito esforço pra retomar a pedalada, cerca de 14:30h. Fiz um trabalho psicológico na Thaís, pra ela acreditar que dava pra chegar!

 Pedalei para Aldeia Velha duas vezes, e não entendo bem o porque, mas a estrada para lá parece muito mais cansativa que as outras que já fiz. Nesse ponto, por exemplo, tinhamos pedalado 80km, e já estávamos destruídos. Na outra vez que fui, parei nesse local com a mesma sensação. Mesmo a estrada sendo relativamente plana, é muito desgastante. Quando subi a serra das araras até Piraí, completando lá 100km, não me senti tão cansado. Vai entender.

Os quilometros seguintes foram pedalados num ritmo relativamente bom, mas meio no automático, com um sentimento de não aguento mais. Num certo momento meu sono foi tanto que dormi por uma fração de segundos e quase tomei um tombo.

Depois de 118km pedalados, finalmente chegamos à entrada de Aldeia Velha. Exatamente como da outra vez, aqui você se sente totalmente revigorado, saindo da estradona de asfalto e caminhões, e pegando uma estradinha de terra batida, com gado, passarinhos, cachorros.

De fato, como conversei certa vez com o Rodrigo Primo, a estrada pela qual você pedala é tão ou mais importante do que o lugar para onde se vai, e é essencial se levar isso em conta quando se planeja uma viagem. Tanto é que nessa viagem que farei agora em dezembro estou procurando sempre alternativas às grandes rodovias, em todos os trechos em que isso seja possível.

 

Chegamos em Aldeia Velha umas 17:30, 12h depois da saída. Ficamos hospedados na casa da Dani, companheira do Pedro, da bicicletada aqui do Rio, e com a companhia da Ainá, filha deles. Na chegada ainda deu tempo de tomarmos um bom banho de rio aproveitando o fim do sol.

A estadia por lá foi maravilhosa, e decidimos voltar de ônibus para podermos passar um dia a mais em Aldeia.
Cachoeira e rio maravilhosos, visita ao Centro de Cultura Caipira, espaço gerido pelo pessoal da Escola da Mata Atlântica, cobra, cachorro, passeio noturno na estrada totalmente escura.
Foi uma viagem linda, e quero voltar lá assim que seja possível!

Agora sigo com os preparativos para a primeira viagem longa que farei: saio daqui dia 18 de dezembro, para Santa Catarina, tendo como destino final Garopaba, cidade de praia 100km ao sul de Florianópolis, onde minha família tem casa e com frequencia passo as férias. Estou planejando passar uns 25 dias na estrada, com paradas de 3 dias em SP, Cwb e Floripa.
Ao todo devo pedalar uns 1.300km, a maior parte sozinho, com meu violão no bagageiro.
E se tudo der certo a Thaís vai me acompanhar no trecho do Lagamar, as ilhas que dividem os estados de SP e PR.

Tem mais fotos da viagem no meu facebook (que nesse momento está desativado), e logo abaixo seguem mais algumas.

Thaís, escreva sua versão da viagem, pra eu postar aqui!

Preparando uma viagem de bike – checklist

Faz um tempo que tava pensando em fazer um post sobre os preparativos pré-viagem. E não haveria melhor momento do que estar fazendo os últimos preparativos para uma viagem!

Desde a Bicletada Jardinária em Niterói, onde conheci a Thaís e o Brunão, falamos de fazermos uma viagem de bike qualquer dia desses. Era pra ter rolado duas semanas atrás, mas o mau tempo e uma complicação de saúde que eu tive acabaram cancelando a viagem.

Eu e Thaís decidimos então fazer a viagem nesse final de semana. O Bruno não vai poder vir junto dessa vez. O que significa que teremos que fazer outra viagem com ele em breve! (e se tudo der certo farei também em breve uma com o Leo e o Danilo, com quem falo sobre fazer um role desse faz tempo.)

Bom, primeira coisa, nosso destino: Aldeia Velha.
Fui pra lá de bike, sozinho, no começo do ano. Faremos um trajeto um pouquinho diferente na saída de Niterói dessa vez, indo por dentro de São Gonçalo, entrando pra BR-101 só lá pela altura do bairro Paraíso. Já fiz esse caminho no sentido inverso e foi bom: trânsito muito mais ameno do que a saída de Niterói pela Av. do Contorno. De resto é só seguir pela BR-101 até chegar.

Vamos na sexta, voltamos no domingo. Viagem curta, levar muito pouca coisa. E temos onde ficar, logo não precisamos de barraca, o que é um  grande adianto.
A previsão é de 12h de pedalada, saindo as 4 da madruga por duas razões: evitar o sol forte, e chegar lá ainda com tempo para um banho de rio ou cachoeira.

Então, a lista de coisas necessárias:

BIKE E ACESSÓRIOS
– ferramentas, todas.
– espátulas e kit de remendo
– bomba
– câmaras reserva
– óculos
– firma pé
– alforjes e bolsa de guidão (inventei uma nova sensacional)
– luzes de sinalização e faixa refletora
– espelho (esse é novidade também)
– capacete

COMIDA
– água, muita água. (cada bike com 2 caramanholas no quadro, e mais uma garrafa na reserva possivelmente. no caminho tem onde enche-las)
– bomba calórica natureba (ainda vou na Casas Pedro comprar os ingredientes e fazer. a receita está aqui no blog!)
– pão, árabe. (não esfarela nem faz sujeira)
– frutas secas diversas
– sementes diversas (girassol, castanhas, amendoim, etc)
– maçã e cenoura (gostoso, não amassa, aguenta bem o tempo debaixo do sol)
– possivelmente algo açucarado pra dar um agrado

não vamos levar comida para refeição. lá teremos onde cozinhar, e nos viramos na mercearia local.

ROUPAS
– bermuda de ciclismo
– uma bermuda de ser humano normal.
– camisa dry fit
– camisa normal
– uma calça térmica para um possível frio (é tipo uma meia-calça, muito compacta e leve.)
– um casaco (no caso o abrigo corta-vento e chuva)
– 1 cueca extra
– 1 par de meia extra
– sunga

PRIMEIROS SOCORROS E HIGIENE
– esparadrapo
– gaze
– band aid
– soro fisiológico
– água oxigenada
– paracetamol
– dorflex (será?)
– filtro solar
– talco
– papel higienico
– sabonete (sabão de coco é até melhor!)
Acho que a lista completa é essa, mas sempre descobrimos que falta algo né. Essa será uma viagem bem curta e bem tranquila, se tudo der certo. O caminho já é conhecido, e estamos com tudo certo. (embora ainda me falte trocar um cabo de freio. hehehe)

Na semana que vem chegam notícias e fotos da pedalada!

beijos

Aventura Macanuda

Um breve relato da aventura de enfrentar o cruel trânsito carioca com bicicletas, para ver de perto o Liniers.

Nos últimos dias rolou no Rio o Comicon, um congresso de quadrinhos e artes gráficas, lá na Estação da Leopoldina, na Av. Francisco Bicalho.
Na sexta-feira o cartunista argentino Liniers esteve por lá para um debate e uma sessão de autógrafos. Então eu e Thais, fans do cara, resolvemos ir.
O debate seria às 20h, e no site estava divulgado que a distribuição de senhas aconteceria da seguinte maneira: metade no começo do dia (14h) e metade 2h antes do debate. A entrada no evento custava $ 10 (a meia!). Com medo de estar lotado, combinamos de chegar lá as 14h, pra pegar a senha, e depois eu iria pra aula e ela ficaria por lá provavelmente, e nos encontraríamos de novo depois.

Considerando alguns atrasos, nos encontramos na estação das barcas – ela vinha de Niterói – quase 14h, e lá começamos a pedalada juntos, em direção à Leopoldina. Eu conheço bem a região, já pedalei por lá algumas vezes, e sabia que ia ser o inferno. Ela não. Na dúvida sobre qual caminho pegar (porque nesse trecho todos são horríveis e hostis com as bicicletas), optei pelo seguinte: 1º de Março, Marechal Floriano, Pres. Vargas, Francisco Bicalho.
O começo foi razoavelmente tranquilo. Transito intenso na 1º de Março mas nada que os ciclistas daqui já não estejam acostumados. Marechal Floriano tinha o trânsito um pouco mais leve, mas o asfalto em compensação era lamentável. Assim chegamos na Central, e de lá a Mal. Floriano acaba e pegamos a Pres. Vargas, onde começa a desgraça.

A Av. Presidente Vargas é uma das maiores e mais movimentadas da cidade, com 2 pistas em cada sentido, cada uma com 3 faixas. As 3 faixas, entretanto, são bastante apertadas, e não comportam uma bicicleta pedalando pelos bordos. Pela margem esquerda, além de apertado, os carros passam em alta velocidade. Pela margem direita, temos um exército de ônibus se degladiando pelo espaço nos pontos, e nós, ciclistas, nos sentimos microscópicos.
Como a Thais está mais acostumada em pedalar pela direita, e os carros em alta velocidade da esquerda pareciam mais perigoso, fomos enfrentando os ônibus o quanto conseguimos. Há diversas paradas e MUITAS linahs nesse trecho da cidade, pois é caminho para vários lugares. Dessa forma, a batalha foi tensa. E o asfalto logicamente não nos favorecia.
Pouco depois da Univercidade (acho que é isso) desistimos do asfalto e fomos pra calçada, que dali em diante era bem pouco movimentada. Também não foi fácil pedalar, pois era muito quebrada e tinha vários degraus muito altos, de saídas de garagens.
Enfim conseguimos chegar ao final da Pres. Vargas, e depois da estação nova do metrô voltamos pra pista e seguimos até o começo da Francisco Bicalho, na altura da passarela.

Ali nos deparamos com um novo problema: estávamos diante de outra avenida de 4 pistas, cada uma com 3 faixas, extremamente movimentada, com carros em alta velocidade, e sem nenhum sinal de trânsito. A única forma de chegar do outro lado, na estação onde era o evento, seria pela passarela. O problema é que a passarela só tinha escadas. Não tinha rampa. É nessas horas a gente consegue se colocar na pele dos outros: se fôssemos cadeirantes, simplesmente não haveria como chegarmos do outro lado, a não ser que déssemos uma volta de uns 2 km indo até a rodoviária e atravessando a rua lá, o que não seria nada prático para um cadeirante.
Bicicletas erguidas, subimos e atravessamos a passarela (que a cada passo dado parecia que ia desabar).

Chegando no local do evento, novos problemas. O primeiro é que, logicamente, não havia um bicicletário. Afinal, quem em sã consciência iria pedalando para um lugar daqueles?! Rapidinho desenrolamos e prendemos as bikes numa grade no estacionamento de carros.
Segundo problema: burocracia pouca é bobagem. O evento custava $ 10 para entrar (porque pagamos meia), as senhas eram distribuidas somente la dentro, e o único jeito de pegarmos a senha no começo do dia era pagando o ingresso, e então esperando lá dentro até as 20h, quando seria o debate. Não havia a possibilidade de sair e retornar sem pagar outro ingresso. E lá dentro as opções para comer eram caras e escassas (no meu caso, não havia nada). Pegar informação com alguém era uma tarefa difícil, ninguém parecia estar trabalhando dentro do evento (apesar de usarem a camisa), e a resposta que tinhamos era sempre “pergunta pra alguém mais ali na frente”. No fim descobrimos que não havia nenhuma distribuição de senhas no começo do dia, e que só poderíamos pegar as senhas as 18h. Ou seja: correria toda a toa.

Então nos deparamos com um novo problema: voltar para perto da Central (eu ainda tinha planos de ir pra aula). O caminho pela via lá incluia passar por viadutos com carros em alta velocidade, então cruzamos de volta a passarela e seguimos pela calçada na contramão até a Pres. Vargas, onde cruzamos outra passarela (sem rampa tambem, mas tinha elevador pra cadeirantes), e de lá seguimos sem maiores problemas até o Campo de Santana. Pela hora, considerando que ainda íamos almoçar, desisti da aula.
Comemos yakisoba e ficamos sentados na praça do Campo de Santana um tempão, fazendo a digestão, debaixo da sombra de uma árvore (eu até tirei um cochilo) e rindo das cotias e gatos. Acho aquele lugar impressionante. No meio do inferno da Central, um lugar tão tranquilo, com sombra, bichos e sem (muito) barulho.

Lá pelas 17 e pouco decidimos levantar e partir para enfrentar o trânsito loco de volta pro Comicon. Dessa vez decidi tentar um novo caminho que evitasse termos que carregar as bikes pra atravessar a passarela. E um novo caminho é uma nova aventura: cruzar o túnel da Providência e seguirmos pela Gamboa até a Rodoviária, pegando a Francisco Bicalho no final.
Acho a experiência de passar pela Central nesses horários de pico, ainda mais de bicicleta, muito interessante. Me sinto naqueles vídeos de países asiáticos onde não há qualquer lei de trânsito. E é mais ou menos assim que funciona lá mesmo. Um formigueiro de pessoas, ônibus insanos, vans, cachorros cruzando a pista. E o túnel xexelento. Aah, o túnel xexelento! Fazia tempo que eu não passava de bicicleta naquele chão de pedra que te faz sentir uma britadeira humana. A Thais achou horrível passar por lá, mas eu confesso que estava com saudades.
A Av. Rodrigues Alves estava impraticável (alguma hora ela não é?!), e seguimos pela calçada até uma transversal que nos levou a uma ruasinha menor da região, que desemboca já na rodoviária. De lá até que foi fácil. Cruzamos por baixo do viaduto, e pegamos a Francisco Bicalho até a estação.

O Comicon estava muito bacana, e foi LINDO conhecer o Liniers. O cara é uma tirinha dele mesmo encarnada num ser humano. Ele falando e rindo o tempo inteiro e fazendo piadas sem parar, era um cartum em pessoa. Rolou uma sessão não apenas de autógrafos, mas de desenhos! Ele tava desenhando pra todo mundo! E super gentil e solícito. O cara é um fofo. Ficamos mais fãns do que já éramos. (Thaís tava até nervosa de falar com o cara! hehehe)

No fim, na volta pra casa, tivemos que erguer a bike mais duas vezes pelas passarelas do caminho (totalizando 5 sobe e desce com a bike no ombro), mas o transito já estava mais ameno e foi tudo mais tranquilo.

Pedalar no Rio de Janeiro, em especial no centro, numa sexta-feira a tarde, parece realmente coisa de maluco. Mas na verdade é coisa de apaixonado. Maluquice é ficar preso no engarrafamento. A cada perrengue desses que passo, eu gosto mais e mais de pedalar pela cidade, conhecer lugares pelos quais de outra forma eu nunca passaria, pela possibilidade de simplesmente decidir “ah, hoje vou pegar essa rua aqui que faz um caminho diferente”.

“As ruas desvendam novos segredos. Mas é tudo o mesmo se o olhar é sempre o mesmo.”